quarta-feira, 29 de abril de 2015

Reportagem - CCBB

CICLO - CRIAR COM O QUE TEMOS


       Um objeto do cotidiano adicionado a uma imaginação bem criativa. Estes são os elementos necessários para compor as obras da exposição Ciclo – Criar com o que temos. O uso de materiais já existentes do nosso cotidiano se transforma em uma nova maneira de ver a arte. A ideia da exposição foi idealizada para homenagear o centenário do Ready-Made, idealizado por Marcel Duchamp. 15 artistas de diferentes nacionalidades e gerações se uniram para proporcionar ao visitante uma nova experiência.


       A mostra ocorreu no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) dos dias 05 de fevereiro a 20 de abril. Os elementos usados para a montagem das obras foi, em sua grande maioria, materiais de baixo custo e usualmente ignorados pelas pessoas no dia-a-dia. Objetos como palitos de dente, absorventes interno (O.B.), lixo eletrônico e até mesmo armas se tornaram matéria-prima para fantásticas peças.“A ideia é pegar um objeto do nosso cotidiano, produzido em massa, e elevá-lo a um outro nível. Não é uma reciclagem, mas sim uma ressignificação do objeto”, afirma Carolina, coordenadora educacional do CCBB. Ela recebe, por dia, cerca de 400 estudantes de escolas públicas.



       O Centro Cultural possui um amplo acesso aos estudantes, disponibilizando transporte gratuito para escolas públicas, com a intenção de que os mesmos possam se envolver cada vez mais com a arte. “O que trabalhamos muito com as crianças é justamente esse novo suporte que a arte contemporânea permite”, ressalta Carolina.



       Quando se caminha por entre as obras, é fácil perceber o encantamento que os alunos e visitantes gerais adquirem pela mostra. Os diferentes sons, texturas, experiências e dinamismo dão suporte à imaginação. Uma das mais impactantes se chama “Desarme” e foi idealizada pelo mexicano Pedro Reyes. O artista percebeu que muitos de seus vizinhos possuíam armas, o que incentivava a violência. Ele resolveu então recolher estas armas e transformá-las em instrumentos musicais, todos feitos com as próprias peças. O sucesso foi tanto que até o Governo do México doou 7.000 armas apreendidas pela polícia.



       Outras duas que encheram os olhos dos visitantes foram as de copos e a de palitos de dente. A primeira é composta por 700.000 copos descartáveis, permitindo uma sensação de profundidade e diferentes experiências. A segunda era basicamente palito de dente e fio de nylon, que quando juntados se transformaram em uma bela escultura de mais de dois metros de altura.



      Cátia Carmona, professora de Artes Plásticas do CEF 09 em Taguatinga Sul, reforça a importância deste acesso com os alunos. “Todo ano trago minhas turmas. É importante o CCBB nos oferecer transporte, porque para escola pública é mais complicado. Minha maior dificuldade é trazer todos, porque não acho professores que queiram me acompanhar. Eu só posso cuidar de 20 crianças e ninguém se dispõe a me acompanhar”, lamenta Cátia.



       A parte externa do CCBB também foi palco de obras como o lustre de absorventes internos, que deixou os visitantes surpresos. Perto do lustre encontra-se um enorme gramado, local onde professores e crianças podem se reunir para um piquenique após o passeio.



       "O principal fator de você tirar o aluno do espaço de sala de aula, e trazê-lo para a exposição, para uma aula dentro da galeria de arte, é que ele tenha o contato direto com a obra. Uma coisa é falar na sala de aula, outra  coisa é ele estar no espaço, tendo contato direto com a arte. Isso pra mim é o mais importante",afirma Andiara Ruas, professora do CEF Miguel Arcanjo, em São Sebastião, que apresentou a seus alunos com necessidades especiais, uma nova maneira de ver a arte.



Julimar dos Santos, artista plástico há 10 anos, ressalta a importância da exposição: "Em meio a tanta correria, com uma população que sempre está com o tempo apertado, é bom encontrar esculturas que remetam ao espectador, uma nova forma de se enxergar não só a arte, mas a vida como um todo. Às vezes as pessoas não reparam nos pequenos detalhes do dia-a-dia, e são eles que fazem toda a diferença".



A iniciativa educacional proporcionada pelo Centro Cultural traz à tona a importância de iniciar-se desde cedo a importância artística para os jovens. O fato de o CCBB estimular, com transporte gratuito, a visitação de escolas e institutos de baixa renda do Distrito Federal, demonstra uma clara inclusão social. Esta obra tem, em especial, um grande chamativo: saber quue é possível fazer arte e pensar além, com objetos do cotidiano e de baixo custo.





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