quarta-feira, 6 de maio de 2015

Da Sala de Aula para a Exposição

Reportagem da exposição Ciclo - Criar com o que temos do CCBB



DA SALA DE AULA PARA A EXPOSIÇÃO

       Um objeto do cotidiano adicionado a uma imaginação bem criativa. Estas são as ideias necessárias que compuseram as obras da exposição Ciclo – Criar com o que temos. O uso de materiais já existentes do nosso dia a dia se transforma em uma nova maneira de ver a arte. A ideia da exposição foi idealizada para homenagear o centenário do Ready-Made (conceito de arte ao deslocar objetos do cotidiano para o contexto de uma exposição), idealizado pelo artista francês Marcel Duchamp. 14 artistas de diferentes nacionalidades e gerações se uniram para proporcionar ao visitante uma nova experiência.

       A mostra ocorreu no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) dos dias 05 de fevereiro a 20 de abril. Os elementos usados para a montagem das obras foram materiais de baixo custo e usualmente ignorados pelas pessoas. Elementos como palitos de dente, absorventes interno (O.B.), lixo eletrônico e até mesmo armas se tornaram matéria-prima para as fantásticas peças. “A ideia é pegar um material do nosso cotidiano, produzido em massa e elevá-lo a um outro nível. Não é uma reciclagem, mas sim uma ressignificação do objeto”, afirma Ana Vinhal, coordenadora educacional do CCBB. Ela recebe diariamente cerca de 400 estudantes de escolas públicas.

       O Centro Cultural possui um amplo acesso aos estudantes, disponibilizando transporte gratuito para escolas públicas do Distrito Federal e entorno, com a intenção de que os alunos possam se envolver cada vez mais com a arte. “O que trabalhamos muito com as crianças é justamente esse novo suporte que a arte contemporânea permite”, ressalta Ana.

       Quando se caminha por entre as obras, é fácil perceber o encantamento que os alunos e visitantes gerais adquirem pela mostra. Os diferentes sons, texturas, experiências e dinamismo dão suporte à imaginação. Uma das mais impactantes se chama “Desarme” e foi idealizada pelo mexicano Pedro Reyes. A inspiração do artista veio da percepção de que muitos de seus vizinhos possuíam armas, o que para ele, incentivava a violência. Portanto, ele resolveu recolher as armas e transformá-las em instrumentos musicais. A repercussão e sucesso da obra foi tamanha que o Governo do México doou 7.000 armas apreendidas pela polícia para a expansão do trabalho do artista.

       Outras duas obras que emocionaram os visitantes foram  "Sem título (copos de plástico)" da artista estadunidense Tara Donovan e "Modelo para Sobrevivência" da uruguaia Julia Castagno. A primeira é composta por 700.000 copos descartáveis que permitem a sensação de profundidade e percepção. A segunda era feita de palito de dente e fio de nylon, que quando unidos, se transformaram em uma bela escultura de mais de dois metros de altura.

      Cátia Carmona, professora de Artes Plásticas do CEF 09 em Taguatinga Sul, reforça a importância do acesso dos alunos disponibilizada pelo CCBB. “Todo ano trago minhas turmas. É importante o CCBB nos oferecer transporte, porque para escola pública é mais complicado a locomoção. Minha maior dificuldade é trazer todos, pois não acho professores que queiram me acompanhar”, comenta Cátia.

       A galeria externa do CCBB também foi palco de obras como "A Noiva", obra feita com O.B., da artista portuguesa Joana Vasconcelos e "O empurrão de Sansão", de Ryan Gander. Duas obras que trabalham com a concepção de altura. Na área aberta do CCBB, próximo ao gramado onde os alunos e professores se reuniam para para um piquenique, ficava a obra do artista italiano Michelangelo Pistoletto, "O Terceiro Paraíso", que só poderia ser vista plenamente de cima.

       "O principal fator de você tirar o aluno do espaço de sala de aula e trazê-lo para a exposição, para uma aula dentro da galeria de arte, é que ele tenha o contato direto com as obras expostas. Uma coisa é explicação da sala de aula, outra  coisa é ele estar no espaço, tendo contato direto com a arte. Isso pra mim é o mais importante", afirma Andiara Ruas, professora do CEF Miguel Arcanjo, em São Sebastião.

Julimar dos Santos, artista plástico há 10 anos, ressalta a relevância da exposição, "Em meio a tanta correria, com uma população que sempre está com o tempo apertado, é bom encontrar esculturas que remetam ao espectador uma nova forma de se enxergar não apenas a arte, mas a vida como um todo. Às vezes as pessoas não reparam nos pequenos detalhes do dia a dia, e são eles que fazem toda a diferença".


A proposta educacional ocasionada pelo CCBB traz à tona a importância de incitar desde cedo a visão artística dos jovens. O estímulo através do transporte gratuito concedido às escolas para a visitação dos estudantes demonstra uma iniciativa de inclusão social. E a exposição em especial, demonstra a estes alunos, em sua maioria de baixa-renda, que é possível fazer arte com materiais baratos, encorajando o pensar além das crianças e adolescentes.

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Vídeo: https://youtu.be/2lFCGuvfAAU

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Veja um pouco da exposição aqui!



"Modelo para Sobrevivência" - Julia Castagno


"Micro Dados" - Daniel Canogar


"Slogan para o século 21" - Douglas Coupland


"Sem título (copos de plástico)" - Tara Donovan


"A Noiva" - Joana Vasconcelos


"O Empurrão de Sansão" - Ryan Gander


"Sem Título #720 (O Fantasma de Eguchi" - Petah Coyne



"Desarme" - Pedro Reyes


"Cabeça de Chiclete" - Douglas Coupland

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